terça-feira, 23 de outubro de 2012

O brasileiro.



O brasileiro é um povo curioso. 

Oscila da auto-piedade mais miserável à arrogância mais histérica.

Quer prova?

Véspera da Copa na Ásia: classificação penosa e um coro quase unânime de que cairíamos fora já na primeira fase. Todas os adversários eram melhores. Até os que não eram. Felipão & cia voltam com o caneco e mostram, senão bonito (e foi contra Inglaterra e Alemanha), um futebol eficiente.

Véspera da Copa na Alemanha: classificação tranquila, exibição de gala 1 ano antes na Copa das Confederações, melhor do mundo com a 10, melhor 1, 2, 3, 4, 5... Um tal de "conosco ninguém pode". A expectativa era de show em todos os jogos: pedalada de marcha-à-ré, Adriano canhotando de tudo quanto é lado, Gaúcho fazendo circo, Kaká a 200/h e Ronaldo sapecando 5 gols por jogo. A coisa tinha cara de desfile, tomou cor e forma de medo e virou (segundos depois do chapéu de Zizú em Ronaldo) pesadelo

Agora temos um tal de Anderson Silva levando (e pior: SE levando) ao estágio mencionado no inicio do texto. O brasileiro vivia a ressaca pós-Dunga e uma safra pouco promissora na renovação da Seleção. Adotou então essa coisa que é o tal UFC ao enxergar que uma excelência no assunto tinha nascido aqui, no Brasil.

Não se tem conhecimento se Anderson Silva sabe perder. 

Mas já sabemos que não sabe ganhar. Sem rodeios: ver UMA luta é o suficiente pra perceber que ele caçoa do adversário enquanto "escolhe" (e não "procura") o momento de vencê-lo. É como se quisesse passar que "ganho no segundo que eu quiser". Gesticula para a plateia, ri enquanto ginga desviando dos golpes e aqui e acolá faz alguma munganga após derrotar o oponente. Inegavelmente possui vocação circense.

Fosse de qualquer outra nacionalidade, as pessoas daqui o odiariam. Ouviria-se dizer que não respeita os adversários e todo aquele blá blá blá do brasileiro quando ferido no esporte.

Mas Silva é de São Paulo e o brasileiro fica excitado com ele no palco octógono. Faça o que fizer, é brasileiro e pode tudo. Até desrespeitar os adversários. E o Anderson gosta.

Como se o fato de ser excelência no que faz lhe desse o direito de ser idiota com os oponentes.

Não dá.

Como não dá a Federer (excelência no tênis), como não dá a Messi (excelência no futebol). 

Exemplos de quando ganham. Exemplos de quando perdem. 



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Assumindo o posto.

O lado ranzinza dirá que foi APENAS o Japão.

O lado racional enxerga uma evolução. Na postura e na forma de jogar - inclusive quando sem a posse de bola.

Haverá, ainda, quem diga que "uma evolução é algo óbvio, pois pior não poderia ficar" (à la Tiririca e o "pior que tá não fica!")

O fato é que a entrada de Kaká no time deu padrão de jogo e nítida confiança ao resto do time. Neymar e Oscar, dois moleques, agora têm com quem dividir a responsa que é carregar o selecionado de quase 200 milhões de técnicos.

E há um ponto crucial no (até então) sucesso da entrada do meia nesse time do Mano: Kaká assumir o posto de líder de um time.

Como não fez no SP, como não fez no Milan, como não fez nas Copas de 2006 e 2010 - e especialmente nessa última esperava-se muito.

Apesar de ter estado no grupo campeão da Copa nipônica, o atual 8 da Seleção não se destacou nas Copas em que atuou e sabe que se quiser entrar na galeria dos GRANDES, tem de arrebentar nesse tipo de competição. Em 2006 fez o gol na estreia, foi sombra nos dois jogos seguintes, deu um passe espetacular pra Ronaldo abrir o marcador contra Gana nas oitavas e contra França ninguém é capaz de dar notícia. Em 2010, arrodeado de "soldados" limitados no quesito BOLA, não conseguiu carregar nas costas (o que era óbvio!) o time do sargento Dunga.

Não adianta: arrebentar numa Copa é diferencial na hora de separar os craques dos bons jogadores; os GRANDES dos MAIORES.

Kaká sabe disso e sabe também que 2014 é sua última chance.

Que aproveite!



Algumas notas:
* Com a volta dos laterais Marcelo e DaniAlves, é provável que um dos que formam o quarteto de frente (Hulk-Oscar-Kaká-Neymar) saia do time titular para entrada de um "volante-volante". O paraibano (que, a propósito, na minha opinião nem deveria estar no grupo) seria minha indicação.
* Me preocupa a posição de lateral esquerdo: Marcelo é o melhor na posição. Mas é tão "bomba-prestes-a-explodir" quanto Felipe Melo. E a história do Felipe nós sabemos o final...
* Me causa estranheza não ver um 9 no time. Falo no sentido do centroavante. Mas serve também pro número: único de 1 a 11 que não temos visto durante o hino (Hulk usa a 20).
* Alguém reparou como a ascensão do Oscar, do Lucas (SP) e a volta do Kaká nos fez esquecer de um tal PH Ganso?
* Se a convocação para a Copa fosse HOJE (e eu fosse o técnico), Fred, Nem e Rogério Ceni estariam entre os 23. Se o Adriano estivesse em forma iria no lugar do Fred.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sendo feliz.




Murray foi. 

Ser feliz! (entenda melhor clicando aqui e depois aqui)

Murray ganhou ontem, pela primeira vez (U-F-A!), um título de Grand Slam.

Federer, Djokovic e Nadal (agora 4º, ultrapassado pelo britânico) agora têm um Murray diferente como adversário. Um Murray que passou pela "barreira" de vencer um Major. E isso significa MUITA coisa.

O mais difícil é ganhar o primeiro.

E como disse Dácio Campos, "onde passa um boi passa uma boiada".


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Fará falta.

Roddick 7-6 no primeiro, Del Potro 7-6 no segundo, 6-2 no terceiro, 5-3 no terceiro e...

Andy Roddick vai pro saque.

Em casa, à beira do precipício (se tivesse o saque quebrado, "já era") e do outro lado um Del Potro consistente demais nesse e no set anterior.

Mas Roddick que é Roddick não é de sucumbir. Ainda mais diante de uma torcida que o empurrou no jogo e NOS JOGOS.

Roddick confirma o saque (não sem antes oferecer um match point ao argentino), a torcida se excita (ouve-se "let's go, Andy, let's go!"), a esposa vai às lágrimas e Del Potro vai sacar pro jogo em 5-4.

Sem drama Del Potro encerraria a carreira do último norte-americano a ganhar um Grand Slam (esse mesmo US Open, em 2003): 7-6, 6-7, 2-6 e 4-6.

O argentino então apontou pro Roddick como quem dizia que os aplausos destinados a ele, vencedor, naquele momento eram pro tenista da casa.

Atual 22º do mundo, Roddick venceu somente um Slam e foi vice em outros quatro (sempre derrotado por um tal Roger Federer). Foi primeiro do ranking por 13 semanas, levantou 32 troféus e não por acaso passou 9 anos entre os dez primeiros do ranking.

Andy carregou nos ombros o peso e a cobrança de suceder ninguém menos que Pete Sampras (parou em 2002) e Ágassi (parou em 2006). Mais: tudo isso no país do tênis.

Um vencedor, que teve de cobrir o rosto com uma toalha pra não mostrar pro mundo que chorava. Como se alguém no mundo não fizesse o mesmo alí, naquele momento e no lugar dele.

Chamado ao centro da quadra, Roddick falou. Pela (ao menos como profissional) última vez:

- "Pela primeira vez na minha carreira, não sei o que dizer. Onde começo? Desde que eu era criança, venho a este torneio e tive a sorte de sentar onde vocês estão hoje, ver os campeões que passaram e adorei cada minuto disso. Foi uma estrada com muitos altos e baixos, agradeço o apoio de vocês. Sei que não facilitei as coisas às vezes. Agradeço muito à minha família, meu pai e minha mãe que estão aqui, minha equipe e amo vocês com todo meu coração. Espero voltar um dia ver todos vocês novamente."

Roddick fará falta. Extremamente inteligente, o norte-americano é daqueles que não costuma sair pela tangente seja qual for o assunto. Sempre que perdeu foi porque seu adversário foi melhor - e não porque doeu aqui ou alí, ou porque o árbitro atrapalhou e etc.

Quando anunciou que esse US Open seria seu último torneio, Roddick que completara 30 anos foi perguntado "o porquê disto, já que Federer tinha 31 e estava muito bem".

- "Federer é uma exceção em absolutamente todos os quesitos. Qualquer comparação com ele é desleal. Seja qual for o outro tenista comparado a ele."

Roddick se despede deixando a sensação de que poderia jogar BEM por pelo menos mais um ano. Penso que essa é a maneira mais bonita e, por consequência, a mais difícil de parar. Parar por cima, jogando bem e com um tênis respeitável demais

Como sempre foi o padrão Andy Roddick. 

E não tomando sacode de qualquer adversário.

Muito bem (e bom!), Andy RODDICK!




Ps.: Um vídeo do Roddick (1 minutinho apenas): http://www.youtube.com/watch?v=0DIWUZFSz1w


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Duas carreiras em uma.



Tenistas são, em sua maioria, pessoas legais.

Evidente que (como em qualquer outra classe) existem chatos(as) de galochas no circuito.

Mas Kim Clijsters sempre fez parte dessa maioria que citei no topo.

Simpática, atenciosa, transparente, educada e, mais que tudo isso, excelente tenista.

Sorriso no rosto.

Benquista por fãs e jogadores de tênis, imprensa, organizadores e tudo o que pode ter direito, a belga alcançou o posto de número 1 do mundo aos 20(!) anos de idade.

E parou (aos 23 anos).

Foi ser mamãe!

Dois anos mais tarde foi convidada para participar de um bate-bola na inauguração do teto retrátil de Wimbledon. Aceitou a honraria e se meteu a treinar para não fazer feio. 
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E aí algo mudou.
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Kim disse sentir saudades de com-pe-tir.
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Voltou a mil e pôs Sharapova, Serena & cia para rodarem.

Venceu 41 torneios no total, sendo 4 Grand Slam: US Open em 2005/2009/2010 e o Australian Open em 2011 - onde quebrou o entrevistador, assim.)

Em maio anunciou sua "segunda" aposentadoria. Kim disse que o US Open (por razões óbvias) seria sua última competição como profissional. 

Na noite de ontem foi eliminada por Laura Robson (de 18 anos). Em uma partida decidida em dois tie-breaks (duplo 7-6).

Kim poderia chorar. 

Eliminada e, a partir daquele instante, aposentada.

Mas, mais uma vez, sorriu! (E horas depois chegou à coletiva de imprensa batendo palmas e dizendo "last time!" - Veja aqui.)

Não há beleza NENHUMA em perder. Mas em saber perder, há. E MUITA!
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Kim deu uma aula de como fazer isso ontem a noite.
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E várias de como jogar tênis durante anos. Em quase duas carreiras...



domingo, 5 de agosto de 2012

Vai, Murray, ser feliz!


Nove de julho de 2012: escrevia sobre a final de Wimbledon.

Os protagonistas eram Roger FEDERER e Andy MURRAY.

E o título do post era: "Sabendo perder. E sabendo vencer" (aqui p/ ler).

Doeu ver Murray praticamente se desculpar por não ter ganho aquele jogo. 

E foi lindo ver Federer alcançar aquele recorde, mais um recorde, naquele lugar, naquela hora, daquele jeito...

[...]

Cinco de agosto de 2012: vinte e seis dias depois e a final das Olimpíadas.

Os protagonistas são os mesmos.

O título - embora o resultado tenha sido diferente - poderia ser o mesmo.

O suíço, como soube vencer 27 dias atrás, soube perder:

"Finalmente consegui uma medalha olímpica. Eu tive uma chance de conquistá-la há 12 anos, mas acabei perdendo a semifinal e depois a disputa do bronze. Andy (Murray) parecia que nunca duvidou de si mesmo, tinha um plano claro e funcionou. Ainda assim estou feliz. Ele jogou muito bem. Foi melhor, muito melhor do que eu hoje. Mas eu estou feliz com a minha medalha de prata. Não perdi a de ouro, ganhei a de prata."

O britânico, como soube perder, soube ganhar:

"Vocês não me veem sorrindo muito, mas eu estou muito feliz. Essa é uma experiência diferente de tudo o que eu já tive no tênis.  Foi a maior vitória da minha vida. Essa semana foi fantástica, me diverti bastante. Me senti muito bem em quadra. A atmosfera foi inacreditável. E o Lendl (treinador) me disse depois da final de Wimbledon que eu nunca mais jogaria sob tanta pressão quanto naquele dia. Hoje sou mais capacitado para lidar com as situações, me sinto muito melhor em quadra."

Murray GANHOU o jogo quando foi agressivo, quando sufocou e quando pôs o suíço - tantas vezes - em estado de dúvida. Hoje Murray pôs Federer na cadeira e foi ELE o professor.

Pode ser que ele agora ganhe seu 1º Grand Slam. Pode ser que não.

Mas Murray agora tem um dia pra contar e sentir orgulho do que fez pro mundo todo ver.

- Vai, Murray, SER FELIZ! 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Londres 2012.


Tenho lido - e até ouvido - muitos "atletas de sofá" associarem o desempenho dos esportistas brasileiros nas Olimpíadas de Londres à palavra "vergonha".

Petizes, não cometam essa injustiça.

Associem a palavra escrita em negrito à política desse país. 

Não se permitam esquecer que o Brasil é um país que só enxerga UM esporte, e esconde outros tantos sob o argumento de que "é esporte de rico".
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Não se deixem enganar. Não existe isso.

O tênis, por exemplo, não é "esporte de burguesia" como disse o ignorante ex-presidente (veja e ouça-o clicando aqui). 

Ou é, mas por (falta de)contribuição dele.

Qualquer esporte significa educação. 

Mais: significa sonhar!

Penso que o esporte tem a força que nenhuma outra coisa tem. Nem mesmo a religião.

O ESPORTE, por si só, não limita classe social. 

O quanto investe o governo nesse esporte, sim.



Ps.: Um vídeo: "O esporte pede desculpas" - http://youtu.be/78UHoEXRlwo.

Atualização:
Hoje (03/08) foi o dia dos "atletas de sofá" caírem em cima do Cielo, que ficou com o bronze.

Minutos antes do brasileiro subir ao pódio, uma atleta britânica chorava por ter alcançado "APENAS" o bronze.

A torcida a saudou como se fosse ouro.

Aqui no Brasil os cretinos xingam.

Feio.

Encerro post com as palavras do jornalista Maurício Noriega (SporTV): "Chegar numa final olímpica já é um feito. Medalha é para superatletas. Não importa o metal."


segunda-feira, 16 de julho de 2012

O maior.


Duzentas e oitenta e sete semanas como número 1 do ranking da ATP.

Recorde (Pete Sampras, 286) quebrado.

Para muitos o maior tenista da história.

Pra mim o maior esportista da história.

Não só pelo que faz "em serviço": tente procurar algum episódio, fora ou até dentro das quadras, em que o suíço desrespeitou um adversário ou se envolveu em algum "abacaxi".

Tsc, tsc, tsc...

Não perca seu tempo: nem mesmo o onipotente Google será capaz de entregar Roger.

Atleta mais bem pago do mundo segundo estudo realizado pela "CNN" (lista aqui), Federer é um sujeito que parece tirar o direito que as pessoas têm de não gostar de outras pessoas. Sim, foi isso mesmo que eu quis dizer: você , leitor, não tem o direito de não gostar dele.

(Favor não confundir com "você é obrigado gostar mais do Federer do que de qualquer outo tenista".)

Explico.

O suíço joga o tênis clássico. Um tênis igualzinho manda o livrinho. É o modelo (único, vale salientar) a ser copiado dentro de uma quadra de tênis. Não faz cera pra sacar e não vai à toalha em todos os entrepontos (certo, Nadal?). Não tem um certo ar de soberba e não faz aqueeeelas milongadas na hora da onça beber água, momento que separa meninos de homens (certo, Djokovic?). E não deixa seu talento de lado e demonstra estar à espera de que o adversário lhe dê de bandeja a vitória (certo, Murray?).

Roger joga limpo e joga bonito. De um jeito que parece nem fazer esforço.

Você pode preferir torcer pelo Nadal. Você pode preferir torcer pelo Djoko. Pelo Murray e por qualquer outro do circuito.

O que você não pode, repito, é não gostar do suíço. Porque pra isso é preciso, antes de tudo, não gostar de tênis. Não gostar e reconhecer o tênis do tal Roger Federer, segundo o bom Paulo Cleto, "é algo na linha de subir no Corcovado, olhar aquela maravilha lá embaixo e ficar desejando que aquilo fosse um sertão".Isso!

Coisa boa é estar vendo a história ser feita, ser escrita. E poder contar como quem viu. E não como alguém contou.

Obrigado, Roger FEDERER.


Ps.: A ATP divulgou um vídeo em homenagem ao suíço pelo recorde alcançado nesta segunda-feira. Mescla imagens de todos os 17 Grand Slams conquistados. Vale ver clicando aqui.

Ps.: Nesse décimo sétimo parágrafo, um para cada Grand Slam do suíço, registro algo que correu pelo twitter envolvendo a quantidade de semanas e o número de majors conquistados por Roger: 2+8+7 = 17. (Besta, mas bom!) #RF287

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Un, deux, trois, au revoir le Brésil.


Doze de julho de 1998.

Há 14 anos assistíamos a maior derrota brasileira na história das Copas do Mundo. O chocolate, que certamente já começou na execução dos hinos com quase 79 mil franceses cantando a Marselhesa, veio sem dó nem piedade.

Naquela tarde - noite no Stade de France em Saint-Denis - a França de Zidane, Thurram e Barthez se transformava em um dos maiores (ou maior!) carrascos do selecionado canarinho.

Um time apático pelo que acontecera horas antes com Ronaldo contra um adversário bem treinado e muito consciente do que precisava fazer em campo. Some-se a isso o fato deste adversário estar disputando uma final de Copa e ainda por cima jogando em casa.

Faca, queijo e goiabada, amigo.

Ou caixão e vela preta, se preferir.

O time de amarelo entrou na roda, não assustou (ou fez o raríssimas vezes) o selecionado francês e foi presa (MUITO) fácil pro time de Aime Jaquet.

Surgiam então teorias malucas - criadas, certamente, por gente que se embebeda pelo que ouve da Globo e acha que o futebol brasileiro tem time pra ganhar de tudo e todos.

Uma dessas teorias foi a de que a França havia comprado a final.

Como se à época o time brasileiro fosse infinitamente melhor que o da casa. Não era bem assim. Longe disso, até.

Pura bobagem e uma bela de uma arrogância atribuir a vitória francesa a uma entrega de Zagallo & cia.

Aliás, os brasileiros são assim mesmo. Oscilam da auto-piedade mais miserável à arrogância mais histérica.

Duas cabeçadas de Zidane em dois escanteios e mais um gol pra fechar o caixão aos 47 do segundo tempo.

Como continuação desse texto eu recomendaria um vídeo, que pode ser visto clicando AQUI.


"Un, deux, trois, au revoir le Brésil!"


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sabendo perder. E sabendo vencer.


Andy Murray é capaz de responder uma pergunta que POUCOS são capazes: a de como é jogar uma final com o mundo em suas costas.

Talvez Ronaldo tenha ideia do que seja isso. Pelo episódio na final da Copa 98 (a convulsão horas antes e uma participação nula em campo) e a redenção na final da Copa seguinte, a de 2002 (quando meses antes MUITOS já o davam como acabado pro futebol).

Talvez.

"Talvez" porque o futebol é um esporte coletivo. E, naturalmente, Ronaldo teve ajuda dos companheiros de time. Murray não. 

O escocês carregou nas costas durante essa final "em casa" o peso de (pelo menos) 4 nações. Eram 74 anos sem que um britânico pisasse a grama de Wimbledon para disputar a final do torneio londrino. Tempo suficiente para que o público da Quadra Central o empurrasse. Como, de fato, aconteceu. Sem desrespeitar Roger.

Eu poderia escrever que Murray foi letal na maioria dos ataques e fez uma apresentação de gala no primeiro set - já a partir do primeiro game!

Eu poderia continuar escrevendo e dizer que Federer voltou pro segundo set com a faca na boca e os olhos bem vermelhos - o que é algo meio novidade pro suíço "de gelo". Tão novidade quanto a ausência das já manjadas - e esperadas - viajadas do suíço. Surpreendentemente elas não apareceram no templo maior do tênis. Pro bem dele, dos que torcem por ele e pro tênis. Por outro lado, pro mal do Murray, coitado.

Mas eu prefiro me ater às declarações de ambos os tenistas já na hora de cada um receber seu troféu. (Aliás, coisa linda o de campeão, não?)

Público da Quadra Central de pé.

"Tô chegando mais perto (de ganhar um Slam)! (emociona-se, respira fundo, olha pro céu, chora) Eu vou tentar mas não vai ser fácil. (público aplaude) Primeiro queria parabenizar o Roger. Você jogou grandes partidas, teve que brigar muito durante o torneio e tem muita força interna ainda pra lutar e vencer. Você mereceu! Vou tentar não olhar pro pessoal do meu camarote pra não chorar mas queria agradecer a todos e dizer que eles fizeram um grande trabalho. E, por último, pra todos vocês... (cai no choro, agora de verdade, e o público aplaude) As pessoas falam da pressão que é jogar Wimbledon como difícil é, mas as pessoas por perto fazem as coisas serem mais fácil... Muito obrigado por todo o suporte que vocês me deram! Thank you!"

As câmeras motram imagens abertas e fechadas e me fazem ter ideia de que todos os presentes aplaudem. E 1/4 do público enxuga lágrimas.

As lágrimas do - humano - Murray representam a vontade de vencer. Alí, naquela grama, onde seu técnico (monstro no passado) Ivan Lendl disse que trocaria todos os seus Roland Garros conquistados por um simples Wimbledon. O mundo viu que o humano - e meninão - Murray merece chegar lá.

Roger o recebe com algo em torno de meia dúzia de palavras ao pé do ouvido e um sorriso. E o faz sorrir.

"Não, eu não li! Evitei! (perguntado se ele leu os jornais e se deu conta da pressão que iria enfrentar por uma partida tão importante) Murray foi muito bem, nesses últimos anos ele tem sido muito consistente, pra mim ele mostra que gosta muito carinhosamente de tênis e sobretudo desse torneio. À ele eu diria 'ganhe um Grand Slam, Murray, você merece'! Sobre mim eu posso dizer que joguei o meu melhor tênis, me sinto muito bem em estar de volta como ganhador, parece muito familiar jogar a final que é esse grande momento. Me sinto muito bem em receber esse troféu (7ª vez!), muitas coisas mudaram na minha vida, tive que fazer muito esforço, mas as coisa sempre vêm nos momentos certos. Me igualo ao Pete Sampras, que é meu ídolo... é inacreditável, é incrível, me sinto maravilhado. (perguntado como se sente ao ter o troféu depois de passar 3 anos sem conquistá-lo) Ser número do mundo não é algo que se ganhe de presente, ano passado estive dois sets à frente e acabei perdendo, no US Open talvez tenha ficado nervoso ou talvez eles (Djokovic e Nadal) tenham sido muito bons, mas eu nunca deixei de acreditar, passei a jogar mais, readquiri minha confiança de volta e estou vivendo esse momento mágico. Um sonho que se torna realidade. Obrigado a todos!"

Murray sabendo perder. Federer sabendo vencer.

Roger agradece quando nós é que temos que agradecê-lo por ser o vencedor que é e vencedor como é.

O maior tenista de todos tempos no maior palco do tênis alcançando o topo do ranking.

Senhores, Roger FEDERER!



Ps.: O vídeo com boa parte das palavras do Murray pode ser visto clicando aqui.

sábado, 7 de julho de 2012

Três e quatro.





A ordem das fotos faz referência à classificação do "top 4" no ranking da ATP antes do início de Wimbledon.

Djokovic e Nadal ficaram pelo caminho e fazem a final do torneio londrino o hexacampeão Federer contra o escocês (desde 1938 Wimbledon não tinha um britânico na final) Andy Murray.

Sobre Andy Murray vale ler isto aqui.

Não que isso valha alguma coisa, mas caso o adversário do britânico fosse QUALQUER outro, minha torcida seria para ele.

Murray carrega nas costas o peso de jamais ter ganho um torneio do Grand Slam. É algo como se fosse (no futebol usamos muito) a história do "eterna promessa": tem "bola" pra ser campeão em qualquer dos 4 GS. Mas nunca foi. O texto sobre ele que recomendei e linkei acima explica muita coisa.

O problema do Murray parece passar por motivação. E se a presença na final do palco mais histórico do tênis (e em casa!) não lhe for suficiente pra estar "mais-que-motivado"... Nenhum outro será.

A favor do maior esportista de todos os tempos tem a possibilidade de, em caso de vitória, voltar ao topo do ranking da ATP e quebrar o (mais um!) recorde de semanas como número 1 que pertence a Pete Sampras. E, claro, aumentar a diferença de Grand Slams conquistados em relação a Djokovic e Nadal.

O jogão acontece às 10h desse domingo (08/07) com transmissão do SporTV2.

Acho que o suíço chega ao 17º GS conquistado. Ao hepta(!) em Wimbledon. E ao topo, lugar de onde nunca deveria ter saído...


domingo, 1 de julho de 2012

Merci, Zizú.


de julho de 2012.

Seis anos da MAIOR apresentação individual em uma partida de Copa do Mundo.

Um jogador genial em mais uma noite genial contra o Brasil.

Merci, Zizú.

Vídeo "Brasil x França por Tino Marcos".
Vídeo "Zidane contra o Brasil". (Vale - MUITO - ver!)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fazendo história.



"O toureiro tem a coragem, a técnica, a estratégia, as armas. O touro tem a força, a explosão, a velocidade, o instinto. (...) Um engano, uma falha, uma demonstração de arrogância do toureiro, e seus chifres o punirão com severidade. (...) O toureiro sabe como a dança terminará, se tudo correr como ele deseja. Mas tem de ser perfeito. Pagará caríssimo pela indecisão, ou pela má execução."

O trecho acima é parte do texto "Tourada em Durban", do André Kfouri, escrito logo após a semifinal do mundial na África entre germânicos e espanhóis. Mas dá pra ilustrar (BEM) o duelo entre Lukas ROSOL e Rafal NADAL em Wimbledon.

O tcheco número 100 (C-E-M) do mundo fez a dita partida perfeita - e somente ela, assim, poderia levá-lo à terceira rodada do torneio londrino. Porque do outro lado estava o touro Nadal que sempre toma a iniciativa, que vai atrás da vitória e não simplesmente espera que o adversário a sirva de bandeja. Do jeito Rafa Nadal: da entrega, da determinação, da coragem indomável.

Rosol, que diferentemente do espanhol não tinha muito a perder, desde o início tratou de descer o braço na bolinha como se não houvesse amanhã. Perdeu o primeiro set num vacilo ao deixar escapar dois set points. Nadal não costuma dar chances desse calibre pr'um adversário. Pobre deste se não souber aproveitar - como ocorreu com Rosol!

Quando o mundo esperava no segundo set um Nadal avassalador e um Rosol murchinho, eis a surpresa: o tcheco enfiou mais ainda o braço na bolinha e pôs na conta não só um set, mas o 2º e o 3º. Pra coisa ficar ainda melhor Nadal saiu do touro e foi fazer as vezes de uma fênix: ressurgiu como a ave e tomou pra si o 4º set. A essa altura, a iluminação natural já se despedia do céu de Londres. A direção do torneio então decidiu que o teto seria fechado e as luzes acesas para que o espanhol e tcheco decidissem a partida já - nada de levar pro dia seguinte (como fazem normalmente).

Teto fechado e luzes acesas. Tudo como um palco pra Rosol fazer história, fazer a sua história.

Não tremeu na hora da onça beber água e (por falar em água!) sapecou mais uma dúzia de cusparadas na grama de Wimbledon entre um ponto e outro pra enfiar a mão no saque e deixar o corpo cair sobre o piso mais lendário do tênis: era a vitória da vida do tcheco de 26 anos.


sábado, 16 de junho de 2012

Murray e a vida.


Está aqui na barra de favoritos o texto escrito pela Sheila Vieira logo após a derrota do Muray ante o Djokovic na semifinal do Australian Open, em janeiro último.

O texto completo pode ser lido clicando aqui.

O motivo maior da menção ao texto refere-se ao brilhante penúltimo parágrafo.

"Murray é essa pessoa dramática, que desperta uma certa pena, por sua insegurança. Ele não se acha melhor dos outros, não acredita que possa ser. Murray aceita que, se o seu dia chegar, será porque o outro viveu um dia ruim. Ele não solta o forehand porque o dele é pior, não gosta de comandar pontos porque toma decisões erradas. É muito esforçado, mas não é genial. E a minha torcida por ele faz mais sentido quando eu lembro que, por boa parte da minha curta vida, eu tive a mesma postura."

Eu acredito em um Murray além desse.

Acredito num Murray que, sozinho, sente algo (ainda pra mim sem nome) que bate quando vê alguém alcançar um posto que poderia (e por quê não "deveria"?) estar sendo ocupado por ele próprio.

E eu digo isso porque, volta e meia na minha curta-e-longa vida, vejo isso aqui comigo.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fã e ídolo, vencedor e vencido.


O segundo domingo de Roland Garros apresentou ao mundo do tênis uma boa surpresa.

David Goffin, belga, (só) 21 anos.

O moleque com cara de moleque surpreendeu um certo Roger Federer do outro lado da quadra e deu boa tarde aos parisienses na Suzanne Lenglen tomando pra si o primeiro set da partida (7-5). Uma surpresa e tanto pra quem dava a partida como ganha pelo suíço em 3 sets.

Então o maior vencedor de Slams resolveu parar de apenas passar a bolinha pro outro lado e pôr em jogo todo o arsenal rogerfederesco de winners, voleios, smashes e tudo o que tem lá no livrinho: 7-5/6-2 e 6-4.

O melhor momento do tête-à-tête entre o suíço e o belga foi "minuto fan boy" puxado pelo apresentador da Roland Garros TV.

Fã declarado do Federer, David disse que tinha sido um prazer disputar uma partida contra Roger e que desde sempre teve fotos do suíço no seu quarto - o que gerou risos do público e um sonoro pedido de "beija, beija, beija...".

Federer, gentleman toda vida, disse (trocando em miúdos) que pouco sabia sobre o jogo de Goffin e que foi pego de cuecas com tamanha ousadia e potencialidade do garoto. Que o jovem tem muito potencial e que o mais importante era colher lições inclusive nas derrotas. 

Fã e ídolo, vencedor e vencido cumprindo seus papéis direitinho.

Bonito.

O "minuto fan boy" pode (e deve!) ser visto clicando AQUI.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Jogadores e jogadores.



Bastian Schweinsteiger se escondeu do mundo ao perder o pênalti na final do maior e melhor torneio de clubes do mundo - a Uefa Champions League.

Cobriu o rosto de vergonha e, logo após Drogba fechar o caixão alemão, desabou no choro como quem assumia (e sentia) toda a culpa pela derrota pro time de Londres. Uma prova de que ele, jogador, está em sintonia com o momento (uma final do maior torneio de clubes), com sua torcida e mais que isso: com a história do clube.

Quatro dias depois, São Paulo, jogo de volta entre Corinthians e Vasco. Diego Souza, que tem como ofício fazer gol, tem a bola do jogo: caminha metros com a bola dominada, sem marcação, tem tempo de olhar, pensar e escolher. Olhou pensou e escolheu. Errado.
Diego Souza perdeu vacilou na chamada "bola-do-jogo". Mais tarde o Corinthians faria o gol da classificação.
Na saída de campo o jogador cruzmaltino tratou o gol perdido como qualquer coisa. Como quem perde um gol contra o Chapecoense num amistoso pré-temporada. 


"Tive a chance, escolhi a melhor opção na hora, tirei bem, mas o goleiro deu um toquinho na bola e acabou salvando o jogo" - Disse Diego.


Mais do que as palavras, que por sí só já demonstram um espírito BEM diferente do apresentado pelo alemão narrado acima, a cara do jogador do clube da colina era de que acabara de protagonizar algo absolutamente normal.


Diego (e tantos outros aqui no Brasil) parece não viver em sintonia com o que acontece dentro das quatro linhas e seu clube/sua torcida. Parece ter, por vários momentos, a cabeça no mundo da lua.




Ps.: Capitaneados pela Rede Globo, eu gostaria (MUITO) de saber o que pensam os jogadores que comemoram gol aqui no Brasil com dancinhas & requebrados  quando vêem isto ou isto.
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