segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sabendo perder. E sabendo vencer.


Andy Murray é capaz de responder uma pergunta que POUCOS são capazes: a de como é jogar uma final com o mundo em suas costas.

Talvez Ronaldo tenha ideia do que seja isso. Pelo episódio na final da Copa 98 (a convulsão horas antes e uma participação nula em campo) e a redenção na final da Copa seguinte, a de 2002 (quando meses antes MUITOS já o davam como acabado pro futebol).

Talvez.

"Talvez" porque o futebol é um esporte coletivo. E, naturalmente, Ronaldo teve ajuda dos companheiros de time. Murray não. 

O escocês carregou nas costas durante essa final "em casa" o peso de (pelo menos) 4 nações. Eram 74 anos sem que um britânico pisasse a grama de Wimbledon para disputar a final do torneio londrino. Tempo suficiente para que o público da Quadra Central o empurrasse. Como, de fato, aconteceu. Sem desrespeitar Roger.

Eu poderia escrever que Murray foi letal na maioria dos ataques e fez uma apresentação de gala no primeiro set - já a partir do primeiro game!

Eu poderia continuar escrevendo e dizer que Federer voltou pro segundo set com a faca na boca e os olhos bem vermelhos - o que é algo meio novidade pro suíço "de gelo". Tão novidade quanto a ausência das já manjadas - e esperadas - viajadas do suíço. Surpreendentemente elas não apareceram no templo maior do tênis. Pro bem dele, dos que torcem por ele e pro tênis. Por outro lado, pro mal do Murray, coitado.

Mas eu prefiro me ater às declarações de ambos os tenistas já na hora de cada um receber seu troféu. (Aliás, coisa linda o de campeão, não?)

Público da Quadra Central de pé.

"Tô chegando mais perto (de ganhar um Slam)! (emociona-se, respira fundo, olha pro céu, chora) Eu vou tentar mas não vai ser fácil. (público aplaude) Primeiro queria parabenizar o Roger. Você jogou grandes partidas, teve que brigar muito durante o torneio e tem muita força interna ainda pra lutar e vencer. Você mereceu! Vou tentar não olhar pro pessoal do meu camarote pra não chorar mas queria agradecer a todos e dizer que eles fizeram um grande trabalho. E, por último, pra todos vocês... (cai no choro, agora de verdade, e o público aplaude) As pessoas falam da pressão que é jogar Wimbledon como difícil é, mas as pessoas por perto fazem as coisas serem mais fácil... Muito obrigado por todo o suporte que vocês me deram! Thank you!"

As câmeras motram imagens abertas e fechadas e me fazem ter ideia de que todos os presentes aplaudem. E 1/4 do público enxuga lágrimas.

As lágrimas do - humano - Murray representam a vontade de vencer. Alí, naquela grama, onde seu técnico (monstro no passado) Ivan Lendl disse que trocaria todos os seus Roland Garros conquistados por um simples Wimbledon. O mundo viu que o humano - e meninão - Murray merece chegar lá.

Roger o recebe com algo em torno de meia dúzia de palavras ao pé do ouvido e um sorriso. E o faz sorrir.

"Não, eu não li! Evitei! (perguntado se ele leu os jornais e se deu conta da pressão que iria enfrentar por uma partida tão importante) Murray foi muito bem, nesses últimos anos ele tem sido muito consistente, pra mim ele mostra que gosta muito carinhosamente de tênis e sobretudo desse torneio. À ele eu diria 'ganhe um Grand Slam, Murray, você merece'! Sobre mim eu posso dizer que joguei o meu melhor tênis, me sinto muito bem em estar de volta como ganhador, parece muito familiar jogar a final que é esse grande momento. Me sinto muito bem em receber esse troféu (7ª vez!), muitas coisas mudaram na minha vida, tive que fazer muito esforço, mas as coisa sempre vêm nos momentos certos. Me igualo ao Pete Sampras, que é meu ídolo... é inacreditável, é incrível, me sinto maravilhado. (perguntado como se sente ao ter o troféu depois de passar 3 anos sem conquistá-lo) Ser número do mundo não é algo que se ganhe de presente, ano passado estive dois sets à frente e acabei perdendo, no US Open talvez tenha ficado nervoso ou talvez eles (Djokovic e Nadal) tenham sido muito bons, mas eu nunca deixei de acreditar, passei a jogar mais, readquiri minha confiança de volta e estou vivendo esse momento mágico. Um sonho que se torna realidade. Obrigado a todos!"

Murray sabendo perder. Federer sabendo vencer.

Roger agradece quando nós é que temos que agradecê-lo por ser o vencedor que é e vencedor como é.

O maior tenista de todos tempos no maior palco do tênis alcançando o topo do ranking.

Senhores, Roger FEDERER!



Ps.: O vídeo com boa parte das palavras do Murray pode ser visto clicando aqui.

3 comentários:

  1. Fã nº 1 dos seus textos: eu. E olhe que nem entendo de tênis ou futebol.

    ResponderExcluir
  2. Sou fã do Federer também, apesar de não acompanhar muito o tênis como você.
    Confesso que não achei que ele voltaria a figurar no topo da lista novamente, e mais uma vez como os GRANDES fazem, ele deu a volta por cima e mostrou que ainda tem muita lenha pra queimar. Merecido é pouco pra esse que é um dos maiores esportistas de todos os tempos.
    Parabéns pelo texto.

    ResponderExcluir
  3. Eu sei que és, Gabi "Cabeça de OvO" Veloso. :)

    Vinícius perfeito no comentário. Poucos acreditavam na volta do Federer ao topo. Mas ele, a única que jamais poderia deixar de acreditar, acreditou! Vida longa ao maior de todos!

    ResponderExcluir

Web Analytics