quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Deivid, a bola e o prato de comida.

Sem querer tripudiar sobre o cadáver de ninguém, pois há quem continue fazendo, digo que Deivid é uma figura de exceção para o futebol brasileiro.

Não porque é capaz de perder gols impossíveis de se perder, como poderia supor qualquer um.

Mas por conceder entrevista à beira do gramado 10 minutos depois de CONSEGUIR NÃO FAZER aquele gol de ontem, no Engenhão. Acredite: 95% dos jogadores sairiam direto pro vestiário sem dar um "piu".

Não fugiu e foi seco quando perguntando se foi o gol mais perdido da sua carreira: "Sim"
.

O Brasil inteiro julgou e ridicularizou Deivid.

No dia seguinte, lá estava o mesmo Deivid se escalando para conceder entrevista coletiva. As mesmas que todos os jogadores correm para não fazê-la.

E falou:

"Por toda a repercussão que tenho acompanhado, não teria motivo para me esconder. É a minha profissão. Não sou jogador frouxo, covarde e otário. Isso nunca vai me fazer pedir para sair do Flamengo. Tenho contrato até dezembro e vou cumprir. Eu fui o culpado. Se tivesse feito o gol, iríamos para o intervalo com 2 a 1, mas é uma coisa que acontece. Gostaria de estar aqui falando da boa atuação, do gol que fiz, do passe para o gol do Love. Poderia estar falando como herói da classificação, mas falo como vilão. Se tivesse feito o gol, a história seria outra. Fico triste porque a torcida vai, paga R$ 50, R$ 60. Temos muita coisa lá pela frente, jogos decisivos pela Libertadores, Carioca. A maior virtude do homem é saber quando errou. Minha filha acordou e disse: 'Você perdeu o gol'. Disse que estava com pena de mim, mas falei que ela não tem que ter pena do papai. Quando achar que alguém tem que ter pena de você, está morto. Claro que vai ficar uma mancha até fazer um gol de título, ser artilheiro. Só cabe a mim dar a volta por cima."

Deivid foi displicente e pagou (e pagará por algum tempo) caro por isso. O lance me lembrou uma famosa frase de Neném Prancha, do Botafogo, que muito provavelmente Deivid não conhece:

"Temos de ir na bola como num prato de comida!"

Deivid achou que já estava feito, que não precisava de "algo mais".

E não precisa ser muito inteligente pra saber de que este tipo de pensamento, no esporte, é gilhotina, é morte súbita.
Web Analytics