domingo, 24 de julho de 2011

Venceram bonito.


Venceram os uruguaios.
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Como se precisassem provar que futebol é muito mais que firulas, chuteiras coloridas e personalizadas, cortes de cabelo espaciais, meiões na altura da virilha, gola da camisa levantada e munhequeiras de esparadrapo.
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Porque de fato não é.
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Um time que da execução do hino até o apito final respira a partida em disputa. Ninguém posa pras câmeras, ninguém tira o pé da dividida e, muitas vezes, até passa do ponto e entra de sola nos adversários.
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Ah, e que comemora os gols com vibração, como se cada gol valesse o prato de comida do dia. Não com dancinhas, imitando bonecos ou com coraçõezinhos com as mãos.
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Porque pra eles se for pra pecar que seja por execesso, jamais por ausência de vontade.
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Que o diga a partida contra a Argentina, jogando por 60 minutos (depois mais 30 da prorrogação) com um joador a menos. Uma AULA de como tirar vantagem estando em desvantagem, se é que isso é possível.
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O Uruguai fatura a 15ª Copa América, a hegemonia no torneio, carimba passaporte para a Copa das Confederações aqui no Brasil em 2013 e diz pro mundo inteiro que na América do Sul tem algo a mais que Brasil e Argentina.
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Recado que começou a ser dado na Copa da África.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Nós precisamos abaixar a bola.


Não foi a primeira vez que a seleção da CBF deu adeus com ar de vexame.
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E não seria vexame simplesmente perder do Paraguai.
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Eles têm um time fechado, minimamente organizado e equilibrado. Quantas vezes vimos um time inferior superar outro favorito num lance de bola levantada na área? Um a zero e pronto. Nada vergonhoso. Um acidente, digamos.
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Mas foi. E GRANDE!
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Porque perder 4 pênaltis, algo jamais visto na história dessa seleção, não pode ser considerado normal. "Vexame" ainda me parece pouco.
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Não há UM PINGO de vestígio de humildade na maioria dos jogadores que vestem a famosa camisa pentacampeã do mundo. E não é de hoje.
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Em 2006, jogadores e grande parte da torcida se embebedaram com a história de que não só ganharíamos a Copa como TAMBÉM daríamos espetáculo nos gramados germânicos. A expectativa de ver Ronaldinho, Robinho & cia pedalando até de marcha à ré foi abocanhada pela chapelaria de Zidane.
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Quatro anos se passaram e vimos na Copa da África um batalhão de soldados (ou "guerreiros"?) convictos de que daquela guerra voltariam com medalha de ouro no peito. Com o tal "comprometimento" e a "lealdade" na ponta da língua, os cabos e soldados de Dunga até fizeram um belo primeiro tempo diante dos holandeses. Ocorre que em Copa ninguém é campeão jogando bem apenas UM tempo. Ainda mais quando do outro lado existe um time dotado de, entre outras coisas, equilíbrio. Ou alguém esqueceu que a Holanda estava atrás no placar quando Sneijder levantou um bola na área e Júlio César falhou bisonhamente? Equilíbrio que sobrava lá faltava cá. Minutos depois nossa "melhor defesa do mundo" não marcou Sneijder (1,67m) e a seleção do técnico que esmurrava o banco de reservas se via atrás no placar. Soberba demais e futebol de menos pra ter que ver Felipe Melo pisar no adversário já caído no chão.
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Um ano mais tarde e novamente deixamos uma competição com a impressão de que quem veste a camisa amarela se contamina com a mais alta arrogância. A forma como André Santos (chutou quase na lua!), Thiago Silva (recuou pro goleiro) e Fred (lateral do calcanhar) bateram as penalidades é um ABSURDO em se tratando de um time que ostenta 5 mundiais.
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Para Robinho, simples demais: "perdemos os pênaltis e não deu".
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Sucinto até demais.
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Como uma seleção que tem a cara de quem não deve satisfação pra ninguém.
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E que há anos deixa como última impressão o vaxame em competições oficiais.
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Futebol não é circo, nem desfile de moda. E ninguém ganha antes de entrar em campo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Contra o antiargentinismo.


Nunca vi um povo comemorar um gol como o argentino. No campo ou na arquibancada, as veias saltam e a cor geralmente desbotada da pele portenha rapidamente se avermelha como um belo Malbec.

Quando a derrota vem, o vulcão de sentimentos permanece o mesmo. O chão some, as mãos trêmulas buscam repouso nas cabeças e não raro as lágrimas escorrem em profusão estarrecedora.

Um gol argentino é como um tango de Gardel. Denso. Forte. Emotivo.

Como país e povo, os argentinos (ao menos comigo) sempre foram gentis e amigos. Isso sem contar a beleza das paisagens, a culinária saborosa...

A Argentina também sempre tratou a bola com raro carinho. De Di Stéfano a Maradona e Messi, vimos brotar naquelas terras gênios capazes de rivalizar com os brasileiros. Isso em um país muito menor e com 1/5 menos de 'pé de obra' disponível.

Fica difícil, portanto, entender o porquê da raiva de alguns brasileiros contra nossos vizinhos. O que se leu nas redes sociais após a derrota para o Uruguai não foi rivalidade, essa sim sempre saudável. Foi algo menor.

Resisto pensar que se trate de dor de cotovelo, mas é difícil pensar em outra coisa. Falar que argentino é convencido e arrogante é muito fácil, mas quantas dessas milhões de pessoas realmente conhecem um portenho pra falar tal coisa (e como se nós fôssemos um país de humildes cordeirinhos).

Talvez, lá no fundo, o brasileiro gostaria de ver seus jogadores comemorando gols menos com coraçõezinhos e imitações tontas de bonecos e mais com seus companheiros e a torcida.

Somos acostumados a cobrar títulos aos montes e ai do time que não corresponder. Será rotulado de perdedor - que o diga o Brasil de Dunga. Quando perdemos, o que vem é a indignação. Como o melhor futebol do mundo ousa perder para um "inferior"?

Enquanto isso, mais ao sul, os argentinos sofrem com uma seca de títulos. Querem apenas ter o prazer de gritar campeão. Quando eles perdem, o que vem é a dor.

Vai ver que dorme escondido um sentimento de que eles jogam para trazer alegria à gente sofrida deles. Os nossos parecem sempre jogar para tentar comprovar sua condição de "superior" e aumentar sua fama.

Torcer contra a Argentina (e contra Uruguai, Itália, França, Holanda, Alemanha, etc) é atentar contra o futebol, violentar a tradição. Não só me nego como adoto o caminho inverso, sempre quero ver os gigantes frente a frente.

Nenhum time é nada se não existirem seus temidos rivais. E a rivalidade genuína nada mais é do que uma mistura de temor e respeito mútuo. Um sentimento paradoxalmente nobre e honrado.

Uma pena que muitas pessoas - alimentadas muitas vezes pela própria mídia e seus animadores de auditório - deturpem esse respeito e o transformem em avacalhação.

Como brasileiro, admiro demais o futebol argentino e vejo como ele completa o nosso e vice-versa. Em minha modesta concepção, isso é muito mais patriota do que sair gritando que sou brasileiro com muito orgulho e muito amor.

Pena que devo ser minoria.
(Do jornalista Fernando Faro - @fernandofaro -, em blogdosesportes.blogspot.com)
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