sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fazendo história.



"O toureiro tem a coragem, a técnica, a estratégia, as armas. O touro tem a força, a explosão, a velocidade, o instinto. (...) Um engano, uma falha, uma demonstração de arrogância do toureiro, e seus chifres o punirão com severidade. (...) O toureiro sabe como a dança terminará, se tudo correr como ele deseja. Mas tem de ser perfeito. Pagará caríssimo pela indecisão, ou pela má execução."

O trecho acima é parte do texto "Tourada em Durban", do André Kfouri, escrito logo após a semifinal do mundial na África entre germânicos e espanhóis. Mas dá pra ilustrar (BEM) o duelo entre Lukas ROSOL e Rafal NADAL em Wimbledon.

O tcheco número 100 (C-E-M) do mundo fez a dita partida perfeita - e somente ela, assim, poderia levá-lo à terceira rodada do torneio londrino. Porque do outro lado estava o touro Nadal que sempre toma a iniciativa, que vai atrás da vitória e não simplesmente espera que o adversário a sirva de bandeja. Do jeito Rafa Nadal: da entrega, da determinação, da coragem indomável.

Rosol, que diferentemente do espanhol não tinha muito a perder, desde o início tratou de descer o braço na bolinha como se não houvesse amanhã. Perdeu o primeiro set num vacilo ao deixar escapar dois set points. Nadal não costuma dar chances desse calibre pr'um adversário. Pobre deste se não souber aproveitar - como ocorreu com Rosol!

Quando o mundo esperava no segundo set um Nadal avassalador e um Rosol murchinho, eis a surpresa: o tcheco enfiou mais ainda o braço na bolinha e pôs na conta não só um set, mas o 2º e o 3º. Pra coisa ficar ainda melhor Nadal saiu do touro e foi fazer as vezes de uma fênix: ressurgiu como a ave e tomou pra si o 4º set. A essa altura, a iluminação natural já se despedia do céu de Londres. A direção do torneio então decidiu que o teto seria fechado e as luzes acesas para que o espanhol e tcheco decidissem a partida já - nada de levar pro dia seguinte (como fazem normalmente).

Teto fechado e luzes acesas. Tudo como um palco pra Rosol fazer história, fazer a sua história.

Não tremeu na hora da onça beber água e (por falar em água!) sapecou mais uma dúzia de cusparadas na grama de Wimbledon entre um ponto e outro pra enfiar a mão no saque e deixar o corpo cair sobre o piso mais lendário do tênis: era a vitória da vida do tcheco de 26 anos.


sábado, 16 de junho de 2012

Murray e a vida.


Está aqui na barra de favoritos o texto escrito pela Sheila Vieira logo após a derrota do Muray ante o Djokovic na semifinal do Australian Open, em janeiro último.

O texto completo pode ser lido clicando aqui.

O motivo maior da menção ao texto refere-se ao brilhante penúltimo parágrafo.

"Murray é essa pessoa dramática, que desperta uma certa pena, por sua insegurança. Ele não se acha melhor dos outros, não acredita que possa ser. Murray aceita que, se o seu dia chegar, será porque o outro viveu um dia ruim. Ele não solta o forehand porque o dele é pior, não gosta de comandar pontos porque toma decisões erradas. É muito esforçado, mas não é genial. E a minha torcida por ele faz mais sentido quando eu lembro que, por boa parte da minha curta vida, eu tive a mesma postura."

Eu acredito em um Murray além desse.

Acredito num Murray que, sozinho, sente algo (ainda pra mim sem nome) que bate quando vê alguém alcançar um posto que poderia (e por quê não "deveria"?) estar sendo ocupado por ele próprio.

E eu digo isso porque, volta e meia na minha curta-e-longa vida, vejo isso aqui comigo.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fã e ídolo, vencedor e vencido.


O segundo domingo de Roland Garros apresentou ao mundo do tênis uma boa surpresa.

David Goffin, belga, (só) 21 anos.

O moleque com cara de moleque surpreendeu um certo Roger Federer do outro lado da quadra e deu boa tarde aos parisienses na Suzanne Lenglen tomando pra si o primeiro set da partida (7-5). Uma surpresa e tanto pra quem dava a partida como ganha pelo suíço em 3 sets.

Então o maior vencedor de Slams resolveu parar de apenas passar a bolinha pro outro lado e pôr em jogo todo o arsenal rogerfederesco de winners, voleios, smashes e tudo o que tem lá no livrinho: 7-5/6-2 e 6-4.

O melhor momento do tête-à-tête entre o suíço e o belga foi "minuto fan boy" puxado pelo apresentador da Roland Garros TV.

Fã declarado do Federer, David disse que tinha sido um prazer disputar uma partida contra Roger e que desde sempre teve fotos do suíço no seu quarto - o que gerou risos do público e um sonoro pedido de "beija, beija, beija...".

Federer, gentleman toda vida, disse (trocando em miúdos) que pouco sabia sobre o jogo de Goffin e que foi pego de cuecas com tamanha ousadia e potencialidade do garoto. Que o jovem tem muito potencial e que o mais importante era colher lições inclusive nas derrotas. 

Fã e ídolo, vencedor e vencido cumprindo seus papéis direitinho.

Bonito.

O "minuto fan boy" pode (e deve!) ser visto clicando AQUI.


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